Sou membro de uma igreja bastante conservadora. E, por mais que alguns queiram negar, pessoas são pessoas — em qualquer lugar, até mesmo dentro de templos.
Conheço bem um irmão que é Cooperador — é como chamam os pastores por lá, embora ele nunca goste de ser chamado assim. Ele é dedicado, zeloso, quase devoto demais à obra. Talvez por isso tenha começado a notar algo estranho: um distanciamento sutil, porém crescente, na relação com a esposa.
Ele me procurou certa vez, num desabafo sincero, quase sufocado. Estava consumido por uma suspeita: e se ela estivesse traindo ele?
Tentei acalmá-lo. Disse que era invenção da mente, que ciúmes assim só faziam mal. Mas ele insistiu: aquela dúvida estava corroendo sua alma. Queria, precisava saber a verdade, custasse o que custasse.
Foi aí que me fez um pedido inusitado — e perturbador.
— Você poderia me ajudar a testá-la?
A proposta era simples, mas carregada de tensão: que eu os convidasse para passar um final de semana numa chácara com piscina. Enquanto estivéssemos lá, eu deveria “cantá-la”, sondar seus limites, ver até onde ela iria. Ele me garantiu, com a voz embargada, que ela poderia ir até onde quisesse — contanto que ele soubesse a verdade.
Concordei. Não por curiosidade, mas por lealdade — e talvez por uma ponta de culpa antecipada.
Aluguei a chácara. Comprei carnes, carvão, cerveja, vinho. Preparei tudo como se fosse apenas um encontro de amigos.
O dia começou leve. Rimos, comemos, bebemos. Ela entrou na piscina com um maiô elegante, coberto por uma saia solta que esvoaçava com a brisa. Meu amigo, o Cooperador, logo alegou cansaço e foi tirar uma soneca. Deixou-nos sozinhinhos.
Ela ficou à beira da piscina, petiscando carne assada e bebendo vinho, com um ar de quem carrega um peso silencioso.
Começamos a conversar. Até que, casualmente, soltei:
— Que bom que seu marido conseguiu um dia pra descansar. Ele se dedica tanto à igreja, né?
Ela suspirou, olhou para o chão e disse, quase em sussurro:
— É verdade... Às vezes, acho que dá mais atenção à igreja do que a mim.
Houve uma pausa. Ela corou, como se tivesse se exposto demais.
Foi minha deixa.
— Sabe... você é uma mulher linda. Se ele não cuidar disso, um dia desses você pode não resistir às cantadas que certamente recebe todo dia.
Ela riu, ruborizada, e me deu um tapa de leve no braço:
— Ah, não recebo tantas assim! Mas... se recebesse, talvez já tivesse cedido à tentação.
Rimos juntos — uma risada nervosa, carregada de significados que não pronunciamos.
Depois disso, ficamos em silêncio. Olhos nos olhos. Um silêncio que parecia gritar.
Quase uma hora depois, o Cooperador acordou. Agradeceu pela tarde, disse que estava ótimo, e foram embora.
Uma hora e meia depois, recebi uma mensagem dele:
“E aí? Descobriu alguma coisa?”
Respondi com cuidado:
“Ela ainda não traiu você. Mas não é por falta de desejo. Ela se sente sozinha. E, dada a oportunidade... talvez não resistisse.”
Ele respondeu apenas:
“Preciso ter certeza de que ela seria capaz.”
Mas isso... isso é uma história para outro dia.
